Princípio do Antropoceno

Princípio do Antropoceno

Vários jornais internacionais anunciavam há uns dias que um grupo de cientistas estaria na iminência de demonstrar que a Terra entrou no Antropoceno, enfatizando o ponto em que a influência da humanidade na geologia do planeta se tornou irreversível. Configura-se uma nova época geológica baseada na observação dos impactos da atividade humana nos processos planetários essenciais; tornaram-se tão profundos que retiraram a Terra do Holoceno [época geológica em que a humanidade vive oficialmente há pouco mais de 10.000 anos]. A formalização do Antropoceno como uma nova época geológica está a ser ponderada pela comunidade estratigráfica, mas independentemente do resultado deste processo, é visível a transgressão das condições do Holoceno em vários aspetos. A atividade humana rivaliza com as forças geológicas na influência da trajetória do Sistema Terrestre.

O conceito do Antropoceno, introduzido pelo químico Paul Crutzen, vencedor do Prémio Nobel em 2000, foi recebendo a aceitação da comunidade científica, mas o órgão responsável pela validação – a União Internacional de Ciências Geológicas, ainda não tomou uma decisão. Nos últimos três anos, um grupo de trabalho identificou um pequeno lago próximo de Toronto, no Canadá; um lago que parece pequeno, com apenas 250 metros, mas que esconde uma profundidade de 24 metros. É um tipo de lago meromítico: as suas águas superficiais não se misturam com as do fundo, que permaneceu intacto durante séculos. Este pequeno lago (Lago Crawford) foi identificado como capaz de oferecer a referência formal para a nova época após investigação do Grupo de Trabalho Internacional do Antropoceno.

O grupo de cientistas exibiu uma amostra vertical do fundo do lago com apenas 90 centímetros, mas que conta a sua história a partir do século XIII, ano a ano. Para estes cientistas é muito fácil identificar a passagem do tempo na amostra. No inverno, o lago congela e a matéria orgânica escura é depositada no fundo. No verão, cálcio e carbonatos dissolvidos na água, provenientes das rochas calcárias da região, cristalizam pelo calor e formam uma camada branca de calcita no leito. Essa sucessão de linhas claras e escuras é um verdadeiro calendário; um livro de história subaquática que revela que o impacto humano começou a transformar tudo em 1950. Chamam-lhe a grande aceleração: o momento em que os testes com bombas atómicas, a queima generalizada de carvão e petróleo, e a extinção de espécies, começam a deixar uma marca indelével no planeta.

Numa das muitas notícias sobre o assunto, no jornal El País, o geólogo Alejandro Cearreta, professor de paleontologia na Universidade do País Basco, afirmava que “O melhor indicador é o plutónio-239. Todos os sedimentos posteriores a 1950 têm plutónio, seja no parque ao lado da nossa casa ou no Lago Crawford”. Os marcadores de plutónio nas rochas permitiram aos cientistas identificar o início da Guerra Fria, uma vez que o material radioativo caiu durante os testes de armas nucleares. Também observaram evidências de rápida mudança geológica devido aos combustíveis fósseis e fertilizantes azotados, indicando que a era do Antropoceno pode ter começado na década de 1950. No lago Crawford, no Canadá, estará o o berço do Antropoceno.

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